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2 de fev. de 2009

Cárcere da alma


Sentir o calor do sol na pele pálida;
a intensidade da luz a me doer os olhos.
O toque suave do vento no rosto;
este, desejando imensamente me levantar o vestido;
Envergonhada, eu o segurava bem firme junto ao corpo,
medindo assim forças com a brisa.
Os cachos negros do meu cabelo desalinhado, balançavam.
Que saudade de momentos como estes!
Em certas circunstâncias, coisas simples significam tanto...
Quando retornei folheei páginas do "Livro do Desassossego" do Fernando Pessoa:

"Pedi pouco à vida e esse mesmo pouco a vida me
negou. Uma réstia de parte do sol, um campo [...], um bocado
de sossego com um bocado de pão, não me pesar muito
o conhecer que existo, e não exigir nada dos outros nem
exigirem eles nada de mim. Isto mesmo me foi negado, como
quem nega a sombra não por falta de boa alma mas para não
ter que desabotoar o casaco [... ]."

Pensei: um pouco de sol, mas quantas vezes até isto me neguei,
trancada na solidão de um apartamento, digitando...
Contando uma história, sem vivê-la.
Há quem tal faça, observando a vida pela janela.
Se comigo assim sucedesse me daria por satisfeita.
Mas, não!
- Que janela que nada!
Nem uma fresta sequer na casa da minha alma a me permitir enxergar o mundo.
Meu interior - um cárcere com paredes compactas: sem sol, sem noção das horas, sem ruídos...
Hoje, apenas um breve contato com a vida lá fora.
Um rápido banho de raio de sol !
O passeio me fez um bem enorme.
Pude sentir a vida.
Olhos e a mente sorveram cada detalhe do percurso.
Fui tomada por uma enorme vontade de ali permanecer.
Mas, sob qual pretexto?
Como não encontrei nenhum,
retornei contrariada e a passos lentos à minha prisão;
na verdade, segui quase que arrastada para dentro do meu cárcere.